terça-feira, 31 de julho de 2012

Hierarquia na Umbanda. Alegrias e tristezas.


Estes dias atrás ocorreram varias coisas que me deixaram muito triste. Uma pessoa que amo muito está a meu ver se tornando uma pessoa muito amarga e deixando o “poder” tomar a cabeça. Com muitos sabem, dentro de um terreiro existem como em quase todo lugar da terra a hierarquia para que o trabalho possa caminhar bem e que a responsabilidade seja delegada a pessoas que já demonstraram seu valor. O problema é que esses cargos deve e vêm com uma confiança que traz certa autoridade as pessoas que assim são selecionadas no trabalho. Algumas dessas pessoas entendem que tal posição não a faz melhor ou pior que as outras pessoas.

Minha tristeza surge também por um irmão não conseguir entender o significado de uma guia no pescoço, mas se torna exponencial quando se trata de uma pessoa em que amamos e que em outrora era um exemplo que mirávamos para seguir. Hoje me sinto como a criança que perde seu super herói.  Mas esse sentimento vem acompanhado de reflexão, pois se não aproveitarmos os fatos que acontecem conosco para melhorarmos seremos verdadeiros idiotas e não é isso que a Umbanda nos ensina.



Nós que estamos totalmente integrados nos trabalhos Umbandistas tendemos com o tempo e com a aquisição de conhecimento e sabedoria alcançar postos mais altos dentro da hierarquia dos terreiros e hoje eu que me entristeço com tal situação posso ser o errante do futuro cometendo os mesmo erros e deslizes. Poderemos nos tornar o herói decaído dos que vem antes de nós. E este sentimento que hoje habita meu coração passa a ser o de outro.

Diante desta situação vamos nos espelhar nos nossos amados e pacientes pretos velhos que não fazem julgamento de nossa atitudes e tentemos compreender que cada um tem seu tempo de entendimento da vida e da posição que ele ocupa, não só nos terreiros, mas no coração daqueles que os tem como seu  exemplo.

Vamos rezar para que tais pessoas que amamos se encontrem e que na nossa hora não cometamos os mesmos erros.

A hierarquia serve para mostrar quem são os mais preparados e os que poderão ser listados nos momentos de necessidade e não para dar status ou poder para  os que a possuem. Você que ocupa algum posto de destaque dentro do seu terreiro lembre sempre disso. E para os que ainda vão chegar La não esqueçam que foi a humildade que os conduziu até lá e é assim que se deve continuar. Lembrem que a hierarquia é apenas uma guia no pescoço e que isso pode ser retirado a qualquer momento, mas que a admiração dos que vem de traz é a verdadeira “hierarquia” que nós é dada, e só nós com atos impensados e contrários as leis umbandistas podemos jogar fora.

Gostaria que vocês, caros leitores, não entendam esse meu desabafo como um julgamento, mas como uma forma que encontrei de abrir meu coração e despejar e aliviar meu pesar. Não pensem que quem lhes escreve se considera melhor. Muito pelo contrario. Eu temo não conseguir forte quando chegar a hora de minhas provações mas tenho fé em meus guias e Orixás que quando chegar o meu tempo eles estarão comigo pesando suas mãos sobre meu ego e orgulho.

Obrigado por poder compartilhar esse momento com vocês.

Que a paz e a sabedoria de Oxalá estejam com todos nós.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Umbanda e a porta dos desesperados


Estes dias escutei alguns irmãos meus reclamando que grande maioria das pessoa que vem ao terreiro que fazemos parte só buscam a solução do seus problemas e logo que conseguem vão embora. Alguns ainda falam mal da religião como se nunca tivessem pisado no lugar. Nesta hora me veio à cabeça um bloco do programa do apresentador Serginho Malandro, ainda quando passava na emissora de televisão Globo, que se chamava a porta dos desesperados. Para quem não conhece ou não se lembra, neste bloco, o participante escolhia algumas portas. Caso encontrasse a correta levaria o premio. Caso contrario, um monstro aparecia para assustar o participante.

De uma forma bem caricata esta é a imagem de tais frequentadores que adentram nossos templos em busca de auxilio. O camarada que o seu “premio” então ele vai buscando varias religiões em busca de resolver seus problemas. Ele sabe que atrás das “portas” pode encontrar algum “monstro”, mas ele se arrisca. O interessante que os terreiros de Umbanda que seriam o “monstro” da vez acabam sendo a porta em que eles encontram o “premio” e acabam por solucionar seus problemas.

Sinceramente eu penso que a função dos terreiros é ajudar QUALQUER pessoa independente do que poderá ser dito posteriormente. Este texto não é para criticar estas pessoas mas para esclarecer algumas coisas.

1-      Umbanda é religião: Sendo assim nós não somos um punhado de sombras de outras religiões. Temos fundamentos, valores e preceitos.
2-      Umbanda não é pronto socorro: Toda casa Umbandista prega o bem e o mais importante. Prega a mudança interior. Umbanda é escola. Escola da vida. Umbanda é casa de mudança.
3-      Umbanda não se presta a praticas egoístas: Não adianta você querer que umbanda trouxesse a pessoa amada, descubra infidelidades, preveja a morte, destrua inimigo.  O que se encontra em casa de Umbanda é o ensinamento e a motivação para que você corra atrás.
4-      Umbanda não faz negocio: Nem adianta pensar que tudo na vida tem seu preço. Umbanda não se cobra e os trabalhos são sempre em prol do progresso.
5-      Umbanda prega princípios: A umbanda é amor, caridade, fé e fraternidade. Umbanda se resume nestes princípios.

Realmente a Umbanda vai acolher as pessoas de braços abertos, como acolheu a mim e acolhe sempre que necessito dela. Entretanto se você acredita que a Umbanda vai te dar alguma coisa de mão beijada é melhor repensar se seu lugar é mesmo uma casa Umbandista.

A Umbanda ensina a pescar e te coloca uma vara na mão. Se você pensa que os peixes virão de encontro a ela provavelmente morrerá de fome.

Ah e as pessoas soubessem que o maior beneficio que temos vem depois que resolvemos nossos problemas imediatistas. A Umbanda de verdade vem depois disso pois ela nos ensina a viver.

Eu ainda acredito que as pessoas vão conhecer a verdadeira Umbanda. E quando este dia chegar o mundo vai se tornar um lugar melhor de se viver.


quarta-feira, 18 de julho de 2012

A importância da música


Isso aconteceu antes de me tornar médium de Umbanda. 
A primeira vez que pisei em um terreiro vi muitas coisas diferentes. A variedade de imagens coloridas de santos católicos e entidades, o aroma das ervas queimando, dos cachimbos dos pretos velhos, mas o que primeiramente tocou meu coração foi às músicas.  Eu sentado no banco de madeira do lado de fora da corrente ficava hipnotizado com o toque do atabaque que repicava e marcava tão compassadamente os trabalhos das entidades. As letras que refletiam a simplicidade e seriedade daquela casa. A voz do cantor que apesar de não ser afinada, transmitia o seu sentimento pela religião. Uma voz tão sincera que tocava o coração. Eu ali sentado, escutando aquelas musicas até que em um momento do ritual os tambores se tornaram mais cadenciados, os rostos se serenaram e uma canção foi entoada.



“Nesta casa tem quatro cantos
Em cada canto tem uma flor
Nesta casa não entra a maldade
Nesta casa só entra o amor”

Neste momento meus olhos marejaram e fiquei muito emocionado. Não havia escutado até aquele momento uma música tão simples e tão linda. Realmente aquela religião tocara meu coração. Foi um sentimento tão avassalador que nunca mais consegui faltar uma se quer reunião. Eu ia a todos os dias de trabalho.

Busquei saber quem faziam aquelas músicas tão lindas e fui informado que as próprias entidade que passavam as letras e que tais músicas eram chamadas pontos. Fui informado também que os cantores se chamavam Ogãs e eram responsáveis por varias coisas dentro do terreiro, inclusive entoar os pontos.  Após tantas perguntas eu acabei entrando para a corrente como aprendiza de atabaque.  Vivenciei o que poucos médiuns umbandistas vivenciaram.  Pude entender o verdadeiro sentido e necessidade dos pontos dentro de um terreiro.

A música dentro da umbanda é uma ferramenta crucial. Ela ajuda no transe, na concentração, na elevação dos pensamentos. A música é o esqueleto da corrente, pois ela que da sustentação ao trabalho durante todo o ritual. É o couro do atabaque que conta se a reunião está tranquila ou se estamos sofrendo demandas. Tudo isso é verdade e todos os membros sabem. O que alguns não sabem é que o Ogã é responsável por guiar a corrente e não de sustentar sozinho. Eles apenam ditam a direção e o compasso. São como maestros e o restante da corrente é a orquestra.

Quantas e quantas vezes eu vejo irmãos sem cantar? Quantas e quantas vezes eu vejo irmão sem bater palmas? E em quanto aprendiz de atabaque eu observava tudo aquilo.  Médiuns trabalhando com suas entidades e o cambono em silencio a seu lado.

Durante seis meses trabalhei como aprendiz de atabaque e pude notar que quando os membros cantavam, ao termino dos trabalhos, o médium estava mais disposto, mais descansado. Quando o canto era fraco todos saiam esgotados da reunião inclusive quem tocava o atabaque que se sobrecarregava.

No dia que me apaixonei pela Umbanda, o canto entoado no terreiro estava forte. Todos os membros se mostravam satisfeitos com o que faziam. A música dessa corrente, forte e coesa que me fez apaixonar.

A sintonia da melodia com o estalar de dedos dos pretos velhos. O batuque com o brado do caboclo caçador.  As palmas sincronizadas com o riso do erê. É isso que toca os corações. É também no canto que demonstramos a nossa força e nossa fé. São nas letras dos pontos que transmitimos os nossos fundamentos, valores e ensinamentos. A música na Umbanda é parte ativa do trabalho. O ponto é uma oração cantada e vivenciada. Quando cantamos um ponto, isso é o próprio Orixá manifesto porque Orixá é sentimento, energia, vibração.

Hoje sou médium de Umbanda, mas sou um médium consciente da necessidade do canto. Por isso sempre que participo dos trabalhos canto com toda força que tenho dentro do meu coração porque sei que aqueles que ali estão buscando um consolo podem ser tocados pela sinceridade e amor do meu canto. Canto sim com a alma porque só assim que tem sentido para a minha vida. Às vezes eu conto esta historia para alguns de meus irmãos e percebo que mesmo depois de escutar tudo, eles não compreendem bem a importância do canto para nossa religião. Assim como eu ainda não compreendo tudo que minha mãe de santo diz ser importante.

Mas vamos seguir em frente nesta marcha de amor e fé e nunca desistir e sempre buscar se aprimorar. Mas cantando e com o coração para que nosso canto possa chegar até Aruanda e  chamar sempre nossos guias para junto de nós para mais um dia de trabalho.

Despeço-me hoje com um ponto que gosto muito.

Que a paz de Oxalá esteja conosco.

"Você que fala da Umbanda 

Não sabe o que a Umbanda é 

 A Umbanda é força divina 

 A Umbanda é pra quem tem fé. 

 A Umbanda é de Preto-Velho 

 E de Caboclo de pé no chão 

 A Umbanda é de gente humilde 

 Pois a Umbanda é amor e perdão"

terça-feira, 17 de julho de 2012

Dia da caridade


Nesta semana se comemora a semana da caridade. Na verdade o dia correto é 19 de julho. Claro que este dia é simbólico porque para nós umbandistas o dia da caridade é todo aquele em que temos forças para exercer.  O peculiar da umbanda é que tudo gira em torno da caridade e humildade. Mas a caridade e a humildade se confundem. A caridade é amor a Deus e ao próximo, e a humildade é o respeito a Deus e ao próximo. Como se ama sem se respeitar? 

Quando batemos cabeça estamos demonstrando nosso respeito e nosso amor aos Orixás e as leis da Umbanda. Quando beijamos a mão do preto velho estamos demonstrando respeito e amor a eles e a seus valores. Quando ajoelhamos para saldar um caboclo estamos reverenciando a essência do caboclo que é a natureza. Quando sarávamos Exu estamos demonstrando respeito e pedindo proteção a estes guardiões do astral. Cada gesto, cada elemento, cada símbolo de nossa religião nos remete a caridade e a humildade.



Você já parou para prestar atenção na postura do caboclo quando incorporado? Ele se manifesta quase sempre com a mão esquerda nas costas e a mão direita à frente apontada para o alto. Ninguém nunca se perguntou o porquê disso? Este gesto traduz um ensinamento milenar muito conhecido por todos os cristãos: “Não saiba vossa mão esquerda o que dê a vossa mão direita”.  Este é um dos princípios da caridade. Daí de coração. Trabalhe para o outro no anonimato. Seja apenas um instrumento. Isso não lembra alguma coisa? Mediunato. Ser médium é aprender a ser caridoso. Humilde. Anônimo. As próprias entidades que manifestam na umbanda abrem mão desse reconhecimento quando se apresentam simplesmente como Mãe Maria, Pai João, Caboclo Arranca Toco, Caboclo cipó, Exu Tranca Rua, Erê Paulinho, etc.

Não existe status quando se pratica a caridade. Não existe premiação por praticarmos a caridade. Não pode existir a premiação ou status, pois caridade se tornaria sinônimo de troca.

Vamos parar um segundo e pensar nas entidades que trabalham conosco. O preto velho vem, trabalha, ama o filho que se ajoelha a seus pés. O que o preto velho leva para Aruanda quando se encerram os trabalhos? O DEVER CUMPRIDO. A satisfação do bem empregado. A mesma coisa o caboclo. A mesma coisa a umbanda e por consequência é assim que os trabalhos da umbanda se realizam. O único ganho que devemos ter é a satisfação do dever cumprido. Mas e aquela historia de que quem faz recebe? Ela é apenas uma historia mal dita? Mal interpretada?

Digamos que em nossa vida fazemos sempre a caridade. Neste percurso muitas pessoas são beneficiadas. Algumas delas vão passar a diante este carinho, amor e respeito recebidos, pois estarão cientes de como é importante e benéfico fazer o bem. Um ato simples, porem sincero desencadeia uma seria de atos simples e sinceros. Essa caridade se multiplica até que um dia ela volta até você. Porem ela não chega só até você. Ela se alastrou nos corações e cada semente germinada em um coração gera varias outras sementes que podem ser repassadas.

Você não recebe de volta uma caridade feita porque você fez alguma coisa boa ao outro. Isso seria uma troca ou pagamento. Na verdade é o mundo se modificando em função de um gesto.

Essa caridade passa de ação isolada e se torna um estilo de vida. Quem aprendeu a praticar e receber a caridade ensina esta pratica para os filhos que já crescem sabendo que ser caridoso é uma necessidade para que o mundo floresça.  

Assim, umbandistas. Vamos usar este dia para que essa corrente nunca pare. Siga as instruções e exemplos dos guias. Aprenda com a Umbanda. Religião é a escola de grandes homens.

Que assim seja.
Saravá Umbanda


quarta-feira, 11 de julho de 2012

Neófitos. Uma nova jornada


Vez ou outra eu recebo convites para conhecer terreiros que não o que frequento. Como toda casa umbandista, cada uma tem suas particularidades e suas diferenças. De forma alguma eu vou discutir ou dizer que isso ou aquilo é melhor ou pior somente por ser diferente da forma que eu pratico. Assim como o Brasil, a umbanda é repleta de diferenças em sua pratica que não desclassificam casas distintas. Isto é natural e é a característica da religião. O alerta é que em muitos terreiros ainda se tem um desinteresse pelo preparo dos futuros médiuns quem vão compor aquele corpo mediúnico.

Lembro como se fosse hoje o tempo em que passei me preparando para me tornar um médium de minha casa. Estudos e mais estudos. Muitas dificuldades, mas muito amparo dos dirigentes. Muita duvida, mas muita resposta.  Muito trabalho e MUITA, mas MUITA disciplina. Hoje sou considerado um médium “desenvolvido”, entretanto o mediunato é uma estrada que não se acaba. Todos os dias, vamos trilhando nossa jornada em busca da melhoria.  

O problema que vejo hoje é que em algumas casas o aspirante a ingresso no mediunato entra sem conhecimento e sem esclarecimento. O simples fato de querer fazer parte daquele “espetáculo” é o suficiente para inicia-lo. O problema é que não existe espetáculo. Existe muito trabalho e preparo para conseguir ser um canal limpo, sem ruído para as entidades que ali se manifestam. Essas entidades sim são um “espetáculo” dos templos e terreiros que acabam cativando o assistente que quer fazer parte daquilo tudo.

Como ele vai saber sem o devido esclarecimento que vestir a camisa de uma causa é fazer parte de tudo? Que vestir a camisa de uma crença é a tornar parte de si? E vivenciar essa causa implica em mudança constante do seu intimo, sacrifícios diários em prol do próximo. Que ao fazer parte de uma casa de orações ele tem que  vincular-se e dedicar-se aos projetos que são realizados. Que ele deverá seguir regras rígidas que mantém o bom funcionamento do terreiro. Fora as pequenas coisas como se preparar com banhos de ervas, orações para que seu corpo possa se tornar sagrado.

Ele não sabe ainda, mas no momento que ele coloca uma roupa branca e se dizer membro, as pessoas irão observar seu comportamento como ele  fazia antes com agora companheiros de trabalho. Ele não sabe ainda, mas a partir deste momento ele se torna espelho para muitos que ali buscam consolo a suas dores e necessidades. Ele não sabe ainda, mas vai ser questionado e testado e a sua conduta irá dizer qual é a qualidade do trabalho daquela casa.

A meu ver, essas devem ser as primeiras preocupações que um neófito deveria ter, pois o trabalho é muito bonito, mas muito sério e para conseguirmos extrair o melhor de uma casa temos que dar o melhor de nós mesmo, pois o que seria um terreiro sem seus membros? A tenda umbandista é como o corpo carnal que não passar de um pedaço de carne sem um espírito e o espírito de um templo umbandista é seus filhos.

Dirigentes.  Preparem bem seus novos filhos para que eles saibam a responsabilidade e a beleza deste trabalho.

Neófitos. Estudem muito para se capacitarem no caminho que escolheram. Entendam o que é fazer parte dessa religião para que no futuro não se arrependam de suas escolhas e não prejudiquem aqueles que têm esta religião como base de suas vidas.

Membros. Auxiliem estes novos irmãos pois vocês serão a fonte onde estes iniciados beberão e o exemplo que será seguido.

Que Oxalá nos abençoe a todos.

terça-feira, 10 de julho de 2012

"Cavalo", oportunidade de ouro


Trabalho como médium de umbanda há alguns anos e até hoje não me acostumo com a confusão que existe em função das entidades usarem nosso corpo.

O preto velho vem, trabalha e como é de sua característica, comove com sua doçura e candura. Aquela entidade se torna importante para as pessoas que ele atende. Torna-se o vovô dos contos de fada que nos dá colo e carinho e quando precisamos sempre tem um jeitinho meigo de colocar nossos pés no chão. Aprendemos a amar. Quando percebemos já tomou conta dos nossos corações.

O caboclo desce com seu brado e encanta com sua beleza e sua força. Todos o respeitam por tudo que ele representa. Uma entidade em completa comunhão com a natureza e com a vida. Mostrando-nos que seres humanos devemos ser. É um espelho de como se deve agir.

A criança com sua pureza de coração e suas brincadeiras. É a prova viva que existem sim espíritos que amam somente por amar. Fazem “arte“ e alegram nossos corações com travessuras juvenis. São verdadeiros doutores  que trazem a dignidade ao espírito com sua simplicidade e curam as chagas abertas em nossos corações.

O exu, aquele que é tão polemico entre os que não o compreendem. Verdadeiros guardiões. Amigo legal que trabalha no cumprimento da lei de Deus. Guerreiros do astral estão sempre olhando e intervindo por nós. São os verdadeiros anjos da guarda. Ajudam-nos no progresso e nos dão força para reerguer nas quedas. Todos podem te abandonar. O mundo pode ser cruel e te tirar tudo, mas ele sempre estará do seu lado. Amigo querido. O que seria da minha vida sem você companheiro?

E são tantos outros que provavelmente um texto viraria um livro. Malandros, baianos, boiadeiros, marujos, ciganos, orientais, etc. Cada um com sua característica, com uma historia, com um carinho especial. Palavras não conseguem descrever a real participação que estes guias têm na vida de seus “filhos”.

Sabendo disso tudo que digo que não me acostumo com a confusão que existem quando o guia vai e ficamos apenas nós, os “cavalos”. Quem dera se eu fosse uma pontinha de cada um deles. Mesmo estudando muito, presenciando atendimentos como um telespectador que somos nós médiuns, ainda hoje me surpreendo com as palavras ditas por eles. O problema é que quando o consulente que ama aquela entidade chega perto de você confundido com o guia que há alguns minutos o recebeu, ele se decepciona, pois logicamente ainda temos muita estrada pela frente para chegar perto do que eles alcançaram. Por isso médiuns, que o estudo tem de ser constante e o aprendizado eterno, mas com afinco de sempre tentar mais e mais sermos pessoas melhores.

Devemos isso a esses guias que utilizam de nós para realizar este trabalho. Devemos isso ao consulente vai buscar consolo a suas dores em nossa casa confiando e amando. Devemos isso a esta religião que nos acolhe de braços abertos. O médium de umbanda tem que estar sintonizado com os ensinamentos dos guias que ele incorpora. Não é sem motivo que seu corpo se faz templo para a passagem dessas entidades de tamanha iluminação. O médium deve ser um livro onde os ensinamentos ficam registrados e a forma de lermos todo esse saber se faz nas obras que esse médium constrói e no exemplo que ele se torna aos outros.

Ser médium não é só sentar no toco e servir de marionete. Ser médium é muito mais que isso. Quem aprende a ser um verdadeiro médium se torna um verdadeiro umbandista e um verdadeiro cristão. Ser médium não é um dever e sim uma oportunidade. Só quem é médium de verdade sabe da dádiva que é estar neste contesto. Estamos sentados no “camarote vip” da espiritualidade bebendo a água mais cristalina nessa fonte  antes de todos.

Então meus irmãos, abracem essa oportunidade com todo amor e dedicação para que todos saibam a satisfação e honra que é estar neste lugar privilegiado.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Vergonha de que?


Estou lendo alguns livros sobre umbanda e dentre eles, um em especial fala sobre a historia da Umbanda. Em determinado momento é mencionado que umbandistas têm o hábito de se denominarem espíritas ou católicos com medo de represálias e preconceito até mesmo nos dias atuais.

Existe este risco?
Provável.  Porem pense um instante sobre os motivos. Se grande parte de nós omitirmos que somos umbandistas e não esclarecermos os fundamentos de nossa religião, este mito vai crescendo e a ignorância criará historias fantásticas que não condizem com a verdade. Posso afirmar que grande parte de tudo que sofremos é por consequência de nossos próprios atos.

Um marido dedicado que ama sua esposa e filhos têm medo ou vergonha de dizer que ama e se dedica a sua família? Poderia dizer também que este marido e pai tem orgulho da família que constituiu. E nossa religião? Que paralelo podemos fazer? Vamos ver...

 Nosso terreiro não é a nossa casa? Não é onde temos nosso “pai” ou “mãe” de santo? Os membros da corrente não são nossos irmãos na fé? Não é em nossa religião que buscamos fortaleza para caminhar e superar nossas fraquezas? Não nos dedicamos com todo amor e ternura para realizarmos um bom trabalho dentro de nossa religião? Não são os valores desta religião que eu introduzo junto a meus valores?

Então podemos então dizer que essa religião é também nossa família. Por que então  não teríamos orgulho de bater no peito e dizer “EU SOU UMBANDISTA” quando questionados sobre quem somos?

O umbandista que segue os preceitos da religião não pode ser outra coisa se não homens e mulheres de bem respeitadores da diversidade. E ao assumirmos nossa crença mostramos o que esta religião linda e maravilhosa tem a oferecer de verdade e nessa hora, mesmo que não convença os que têm uma pré-opinião errada de nossa causa estarão com uma duvida plantada.

É o umbandista que deve falar da sua religião. Só nós podemos falar o que vivemos dentro de nossos templos. Só nós sabemos qual a grandeza de um preto velho, de um caboclo. Só nós para sabermos da justiça e da firmeza de um exu. Então nós umbandista que temos que esclarecer a fé que profetizamos.

Vamos deixar esse medo sem sentido de lado e dizer de que um umbandista é feito. Ao “sairmos do armário” mostraremos que a umbanda não é para ser temida e sim amada e respeitada como qualquer outra religião, mas com uma certeza. Que a umbanda é a melhor religião para o umbandista e que nós temos o prazer de sermos quem somos.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Um dia de fúria


Esta situação já faz tempo, mas aconteceu na cidade em que moro.

Estava em um ponto de ônibus esperando o coletivo que me levaria a meu destino. O ponto estava muito cheio e o banco estava repleto de pessoas sentadas esperando a suas conduções. Eu, por falta de lugar esperava em pé quando percebi uma mulher a me olhar com uma expressão fechada no rosto. Achei estranho, mas continuei parado esperando o ônibus. O olhar dessa senhora que aparentava uns cinquenta anos ia se fechando cada vez mais e o seus olhos iam arregalando e cada vez mais incisivos para mim. Pude notar um tom de raiva que parecia se acumular naquela mulher a cada minuto que se passava. Parecia que a qualquer momento iria explodir de tão cheia de alguma coisa que eu ainda não podia decifrar.

Subitamente a mulher reage gritando de forma frenética e descontrolada. Eu ainda não havia percebido que tal comportamento tinha alguma ligação comigo até que comecei a notar o que a senha dizia.

“Macumbeiro desgraçado... Filho do cão... O diabo tem que morrer...”

Fiquei assustado, mas até então não havia percebido o porquê disso tudo e não conseguia saber  como aquela mulher adivinhara que eu era umbandista.
Foi então que notei que uma de minhas guias aparecia, saindo de dentro da minha camisa entre meu pescoço e a gola da camisa. Fiquei assustado, mas continuei assistindo tudo parado no ponto de ônibus.  De repente esta mulher aos berros agarra um grande pedaço de vidro quebrado no chão e parte para cima de mim dizendo que eu devia morrer. Dei alguns passos para traz e as pessoas que também esperavam seus ônibus a contiveram.

A mulher continuava a gritar presa pelas pessoa que ali esperavam sua condução.

“Vou chamar a policia. Esse tipo de gente não pode andar livremente pelas ruas em que andam pessoas de Deus...”.

Fiquei com muito medo e entrei no primeiro ônibus que passou.
Em quanto o ônibus arrancou e se pôs em movimento eu vi pela janela aquela senhora a me olhar com um ódio enorme.

O ônibus já estava quase em meu destino, mas aquela situação não me saia da mente.  E me vinha uma única pergunta. “Por que disso tudo?”.
Um ódio gratuito que nasceu em virtude da nossa diferença religiosa? Um ódio forjado pela ignorância e palavras de pessoas que se promovem em cima de mentiras?

Queria eu que aquela senhora conhecesse a grandeza e humildade de todos os guias que “descem” nos terreiro de umbanda trazendo a paz e o aconchego para quem necessita.  Estes mesmos guias que em vez de um ódio gratuito entregam o amor incondicional a todos que deles precisam.  Será que tal senhora ainda teria esse ódio ao saber que mesmo sem a conhecer “os nego ama todos os fio da terra”?

Fui pensando e repensando e por um instante me senti muito feliz por ser quem sou. Relembrei de toda minha jornada como umbandista até aquele momento. Relembrei da fala das entidades que trabalham na casa em que frequento. De tudo que fazemos sem julgar quem recebe e senti um orgulho de olhar para aquelas guias que eu usava por baixo de minha camisa. Senti uma satisfação de vestir todo final de semana minha roupa branca e me postar de pés descalços  recebendo meus guias espirituais. Naquele momento eu me senti pleno, pois eu vi que verdadeiramente eu era parte de uma coisa muito grande e muito bonita que se chama UMBANDA.

Às vezes eu me recordo dessa situação e me lembro desse sentimento bom que tomou conta de mim neste dia que me deparei com a intolerância e a ignorância. E a cada dia que eu me posto diante do meu congá e bato cabeça para meus Orixás o mesmo sentimento toma conta de mim outra vez. Neste momento reverencio minha religião e me preparo mais uma vez para um novo dia de trabalho...

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Mediunato na Umbanda


A primeira vez que eu pisei em um terreiro, fiquei maravilhado com aqueles seres que ali se manifestavam como caboclos, pretos velhos, crianças, etc. Fui embora para casa as palavras dessas entidade que ecoavam em minha mente. Meu encantamento foi tanto que em mim brotou um desejo: “Quero ser médium”. Já tinha passado por algumas experiências e como grande maioria dos recém-chegados e acreditei que o simples fato de querer e doar um tempinho de meu tempo livre bastaria e logo pedi para fazer parte daquela corrente mediúnica.

Demorou um tempo, mas consegui o que queria. Eis a minha surpresa que o papel de um médium não era apenas sentar em um toco e esperar as coisas acontecerem.
Foi então que foi apresentado ao tal “mediunato” que já havia ouvido em tempos de outrora e fui entendendo coisas que antes não fazia sentido para mim.

Fui apresentado para as cinco regras do mediunato:
  • A primeira regra que foi que para ser um bom médium eu teria que ter disciplina.
  • A segunda regra foi que o bom médium deve ter disciplina.
  • A terceira regra foi que o bom médium deve ter sempre disciplina.
  • A quarta regra é que o médium deve ter muita fé.
  • E a quinta regra é que o médium deve ser perseverante.
Achei que existia um pouco de exagero em tanta disciplina, mas a cada passo que dava uma situação me mostrava que não.

Ter disciplina para aceitar meus erros e começar a mudar meus defeitos porque descobri que grande a parte da credibilidade de uma entidade, do terreiro que frequentamos e da religião vem da conduta de seus “cavalos”, pois as palavras não são do médium, mas saem da boca dele e os valores que pregam a casa e religião são entendidos a partir do exemplo dos que está há mais tempo na jornada da fé.
Novamente ter disciplina para estudar muito sobre minha religião e seus valores pois quando questionado pelo ignorante e desafiado pelos que tem o objetivo de denegrir o nome de nossa umbanda sagrada poder saber como me portar e como responder com humildade a fim de esclarecer o ignorante, e não dar razão para pessoas que querem difamar nossa fé espalhando inverdades aos desenformados.

Mais uma vez  a necessidade da disciplina ao ter que conter meu ego e orgulho deparando com situações pelas quais somos colocadas a prova durante todo momento da vida e principalmente depois de ingressarmos ao mediunato.

A fé é o combustível que nos dá força para seguir em frente e não nos deixa esquecer quem a todo o momento de nossas vidas somos umbandistas.  Não existe um botãozinho que nos “liga umbandistas” na hora das reuniões e nos “desliga umbandistas” quando encerramos nosso trabalho.
A perseverança é a primeira que temos que aprender porque para conseguirmos tudo isso que foi dito nos erraremos muito. Às vezes até acharemos que não vamos conseguir. Perseverança é necessário para errar e continuar tentando. Perseverança porque a umbanda não é religião para gente fraca. Umbanda é religião para gente forte e não vamos adquirir essa fortaleza sem perseverança.
Tudo isso faz parte de ser médium, mas o médium não pode esquecer que a finalidade dele é ser um “meio” que a espiritualidade usa para atingir um fim, um objetivo, pois o dia que o médium deixa de ser meio para ser o fim, então é o “fim” do médium. 

Existe outra coisa que precisamos ter para conseguir trilhar tudo isso, mas essa vem com o tempo e sem ela seremos apenas mais um dos tantos que fracassaram na tentativa de trilhar tal estada. Um sentimento primordial para trilharmos com louvor o caminho do mediunato que é O AMOR. Amor à religião, amor ao trabalho que fazemos, amor aos nossos irmãos, amor as entidades, amor aos Orixás. Sem amor, alem de não conseguirmos terminar nossa jornada, ela será sem propósito, pois o amor que dá sentido a todo o processo.

Do dia que aceitei o papel e o posto de médium e a proposta umbandista, essas são algumas das coisas que acredito serem primordiais para um bom médium e um bom cristão.
Sendo assim umbandistas, mãos a obra que temos muitas sementes ainda a plantar nos campos dos corações.

Que assim seja.

Saravá Umbanda.