Esta situação já faz tempo, mas aconteceu na cidade em que
moro.
Estava em um ponto de ônibus esperando o coletivo que me
levaria a meu destino. O ponto estava muito cheio e o banco estava repleto de
pessoas sentadas esperando a suas conduções. Eu, por falta de lugar esperava em
pé quando percebi uma mulher a me olhar com uma expressão fechada no rosto.
Achei estranho, mas continuei parado esperando o ônibus. O olhar dessa senhora
que aparentava uns cinquenta anos ia se fechando cada vez mais e o seus olhos
iam arregalando e cada vez mais incisivos para mim. Pude notar um tom de raiva
que parecia se acumular naquela mulher a cada minuto que se passava. Parecia
que a qualquer momento iria explodir de tão cheia de alguma coisa que eu ainda
não podia decifrar.
Subitamente a mulher reage gritando de forma frenética e
descontrolada. Eu ainda não havia percebido que tal comportamento tinha alguma
ligação comigo até que comecei a notar o que a senha dizia.
“Macumbeiro desgraçado... Filho do cão... O diabo tem que
morrer...”
Fiquei assustado, mas até então não havia percebido o porquê
disso tudo e não conseguia saber como
aquela mulher adivinhara que eu era umbandista.
Foi então que notei que uma de minhas guias aparecia, saindo
de dentro da minha camisa entre meu pescoço e a gola da camisa. Fiquei
assustado, mas continuei assistindo tudo parado no ponto de ônibus. De repente esta mulher aos berros agarra um
grande pedaço de vidro quebrado no chão e parte para cima de mim dizendo que eu
devia morrer. Dei alguns passos para traz e as pessoas que também esperavam
seus ônibus a contiveram.
A mulher continuava a gritar presa pelas pessoa que ali
esperavam sua condução.
“Vou chamar a policia. Esse tipo de gente não pode andar
livremente pelas ruas em que andam pessoas de Deus...”.
Fiquei com muito medo e entrei no primeiro ônibus que
passou.
Em quanto o ônibus arrancou e se pôs em movimento eu vi pela
janela aquela senhora a me olhar com um ódio enorme.
O ônibus já estava quase em meu destino, mas aquela situação
não me saia da mente. E me vinha uma única
pergunta. “Por que disso tudo?”.
Um ódio gratuito que nasceu em virtude da nossa diferença
religiosa? Um ódio forjado pela ignorância e palavras de pessoas que se
promovem em cima de mentiras?
Queria eu que aquela senhora conhecesse a grandeza e
humildade de todos os guias que “descem” nos terreiro de umbanda trazendo a paz
e o aconchego para quem necessita. Estes
mesmos guias que em vez de um ódio gratuito entregam o amor incondicional a
todos que deles precisam. Será que tal
senhora ainda teria esse ódio ao saber que mesmo sem a conhecer “os nego ama
todos os fio da terra”?
Fui pensando e repensando e por um instante me senti muito
feliz por ser quem sou. Relembrei de toda minha jornada como umbandista até
aquele momento. Relembrei da fala das entidades que trabalham na casa em que
frequento. De tudo que fazemos sem julgar quem recebe e senti um orgulho de
olhar para aquelas guias que eu usava por baixo de minha camisa. Senti uma
satisfação de vestir todo final de semana minha roupa branca e me postar de pés
descalços recebendo meus guias
espirituais. Naquele momento eu me senti pleno, pois eu vi que verdadeiramente
eu era parte de uma coisa muito grande e muito bonita que se chama UMBANDA.
Às vezes eu me recordo dessa situação e me lembro desse
sentimento bom que tomou conta de mim neste dia que me deparei com a intolerância
e a ignorância. E a cada dia que eu me posto diante do meu congá e bato cabeça
para meus Orixás o mesmo sentimento toma conta de mim outra vez. Neste momento
reverencio minha religião e me preparo mais uma vez para um novo dia de
trabalho...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Muito obrigado pelo seu comentário.